quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Educação e a Pessoa com Surdez

Scheila Maria Acioli Dias


Muitas propostas e abordagens para a educação de pessoas com surdez tem surgido ao longo dos tempo, existindo um embate entre gestualistas e oralistas. A discussão entre estas duas concepções acontecem em relação a políticas públicas, pesquisas científicas e em ações pedagógicas destinadas aos alunos com surdez. Porém, no meio dessa discussão em relação a aceitação de uma língua ou de outra, as pessoas com surdez não têm o seu potencial individual e coletivo desenvolvido, ficam em segundo plano nas vivencias das relações sociais e relegadas a uma condição excludente ou a uma minoria. DAMÁZIO & FERREIRA (2010)
A inclusão procura superar a visão fragmentada de homem, com deficiência ou não. Propostas educacionais direcionadas para a pessoa com surdez têm como objetivo proporcionar o desenvolvimento pleno de suas capacidades; contudo, não é isso que se observa na prática, ainda existindo muitos desafios e propostas que precisam de maior analise para que a pratica estabeleça compreensão e o reconhecimento do potencial, capacidades individuais e no processo de ensino-aprendizagem de cada aluno.
Esse embate entre gestualista se oralistas separam as pessoas, “ negligenciando o potencial e a capacidade notórias e visíveis que elas possuem” DAMÁZIO & FERREIRA (2010), canalizando a atenção para a língua, esquecendo a importância da qualidade e eficiência de práticas pedagógicas e a necessidade de ambientes educacionais estimuladores.
Existe a necessidade de se pensar o sujeito com surdez como ser biopsicossocial, cognitivo e cultural, com uma parte que limita, porém possibilita e potencializa outros processos na forma de adquirir e produzir conhecimento. Assim:

[…] os processos perceptivos, lingüísticos e cognitivos das pessoas com surdez poderão ser estimulados e desenvolvidos, tornando-as sujeitos capazes, produtivos e constituídos de várias linguagens, com potencialidade para adquirir e desenvolver não somente os processos visuais-gestuais, mas também ler e escrever as línguas em seus entornos e, se desejar, também falar. Isso nos faz pensar num sujeito com surdez não reduzido ao chamado mundo surdo, com a identidade e a cultura surda, mas numa pessoa com potencial a ser estimulado e desenvolvido nos aspectos cognitivos, culturais, sociais e lingüísticos, pois a concepção de pessoa com surdez descentrada se caracteriza pela diferença, que, sob a força de divisões e antagonismos, leva a pessoa descentrada a ser deslocada e a assumir diferentes posições e identidades. Hall apud DAMÁZIO & FERREIRA (2010).

É nesse sentido de descentramento identitário que concebemos a pessoa com surdez como ser biopsicosocial, cognitivo e cultural, não somente na constituição de sua subjetividade, mas também na forma de aquisição e produção de conhecimentos. A perspectiva da inclusão busca possibilidades sociais e educacionais para a pessoa com surdez, fugindo da visão de subordinação de uma língua em relação a outra e da visão de diferença cultural com foco na língua em si, pois esta não é garantia de aprendizagem significativa, assim busca uma visão que considera o aluno em suas peculiaridade e potencialidades. DAMÁZIO & FERREIRA (2010), coloca que:

O ambiente em que a pessoa com surdez está inserida, em especial o da escola comum, uma vez que não lhe oferece condições para que se estabeleçam mediações simbólicas com o meio físico e social, não exercita ou provoca a capacidade representativa dessas pessoas, consequentemente, compromete o desenvolvimento do pensamento, da linguagem e da produção de sentidos.


A pessoa com surdez possui uma deficiência que provoca diferenças e limitações, que devem ser reconhecidas e respeitadas, porém não podem servir de justificativa para o fracasso escolar, Nessas pessoas, se lhes forem criados ambientes propícios para desenvolverem o seu potencial, as marcas do déficit, da falta, da falha e da deficiência serão secundarizadas e será exaltado o seu potencial humano. DAMÁZIO & FERREIRA (2010).

Assim, a educação no AEE PS significa:

Preparar para a individualidade e a coletividade, provocando um processo comunicacional-dialogal-global, buscando a superação da imanência, da imediaticidade e buscando a transcendência do social, do cultural e do histórico-ideológico, com ruptura de fronteiras, e deflagrando uma sociedade mais solidária, fraterna e humana, em que os saberes não aprisionem o corpo e a mente ao poder, mas possam liberá-lo. DAMÁZIO & FERREIRA (2010)

Neste sentido, o AEE para a pessoa com surdez, deve construir e reconstruir experiências e vivências que não serão pautadas numa visão linear, hierarquizada e fragmentada, o ponto de partida será o reconhecimento das capacidades e potenciais, tendo a a consciência que, para a construção de conhecimento o aluno deve agir sob os recursos de ensino que o estimularão para sua ação, entendendo assim, que os recursos utilizados pelo docente devem ser significativos para o aluno.

Um comentário:

  1. Scheila,
    Gosto muito de visitar seu blog, pois suas postagens são sempre bem fundamentadas.
    Parabéns pela capacidade de síntese. Seu texto ficou ótimo! Você conseguiu destacar as ideias básicas de uma forma bem objetiva.

    Roseane Rapôso

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